A indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas projeta um crescimento de 8,2% nas vendas em 2025, após dois anos consecutivos de retração. O setor busca retomar o ritmo após alcançar um faturamento recorde de R$ 97 bilhões em 2022 e cair para R$ 61 bilhões no ano passado.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a valorização de commodities como soja, milho, café, algodão e carne tem incentivado novos investimentos por parte dos produtores. “Não será um ano extraordinário, mas suficiente para recuperar o prejuízo causado por um 2024 marcado pela seca severa”, afirma Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq.
O desempenho positivo do primeiro trimestre de 2025, com crescimento de 24% no faturamento em relação ao mesmo período do ano anterior, reforça o otimismo do setor. Apesar dos juros elevados – que podem chegar a 18% ao ano –, a expectativa é sustentada pelas intenções de compra registradas na Agrishow, que somaram R$ 14,2 bilhões.
Financiamento será decisivo para a retomada
O setor aguarda com expectativa os parâmetros do Plano Safra 2025/2026, cuja definição da taxa de juros pode determinar a conversão das intenções de compra em vendas efetivas. Segundo Estevão, o governo federal enfrenta desafios fiscais para ampliar subsídios: “O orçamento aprovado é de R$ 15 bilhões, mas são necessários ao menos R$ 25 bilhões para atender à demanda, gerando um déficit de R$ 10 bilhões”.
Mercado externo e crédito seguem incertos
As exportações do setor recuaram de US$ 1,8 bilhão em 2023 para US$ 1,5 bilhão em 2024, impactadas pela queda nos preços das commodities e por incertezas nas relações comerciais internacionais. A disputa tarifária entre China e Estados Unidos é vista como um fator de risco adicional.
Demanda por tratores de baixa potência impulsiona vendas
Entre as fabricantes, a Valtra projeta alta entre 3% e 5% nas vendas em 2025, com destaque para o segmento de tratores de até 50 cavalos de potência, que cresceu 4,7% no primeiro trimestre. O bom desempenho no Rio Grande do Sul se destaca, apesar das dificuldades climáticas recentes. “O produtor gaúcho demonstra resiliência e continua investindo”, afirma o diretor comercial Claudio Esteves.
Para contornar o impacto das altas taxas de juros, a empresa ampliou o prazo de consórcios para 150 meses, reduzindo o valor das parcelas.
Tecnologia ganha espaço como diferencial competitivo
Segundo o CEO da SLC Máquinas, Anderson Strada, o foco dos produtores está em eficiência e sustentabilidade. “A procura por máquinas com tecnologia embarcada cresce, assim como pelo uso de kits que otimizam equipamentos já existentes.”
A empresa projeta alta de até 5% nas vendas em 2025 e destaca o lançamento de novos produtos da John Deere, impulsionado por um novo centro de desenvolvimento tecnológico em Campinas (SP).
Massey Ferguson aposta em crédito e inovação
Para a Massey Ferguson, o segundo semestre de 2025 deve marcar uma retomada mais intensa. O gerente nacional de vendas, Ordely Júnior, destaca o papel do Plano Safra e o uso crescente de seguro rural e sistemas de irrigação como fatores que favorecem os investimentos. A empresa oferece financiamento com crédito direto de fábrica, sem necessidade de vínculo com o BNDES, e consórcio como alternativa à aquisição de maquinário.