O ritmo de recuperação da indústria cearense, neste ano, está muito mais forte do que a média do Nordeste e do Brasil, ressaltou o economista Ricardo Amorim em evento da  Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) ontem (5).

“Em geral, a recuperação do Nordeste está abaixo do Brasil, há exceções, Pernambuco é uma delas, mas o melhor caso disparado é do Ceará, que está muito além da média nordestina e muito além do Brasil”, apontou.

No primeiro bimestre de 2021, a produção industrial cearense cresceu 4,9% em comparação com os primeiros dois meses do ano passado, quando ainda não havia registro de casos da Covid-19 no Estado.

Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF/RG), divulgados no dia 08/04 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com Amorim, o crescimento é puxado pela indústria têxtil. “Quando a gente pensa em vestuário, hoje, o que importa é a parte de cima, o que vai aparecer no Zoom, porque as pessoas tão saindo muito pouco”.

Com isso, o economista aposta em expansão do setor têxtil, de calçados e de couro mais à frente, quando a população voltar a circular normalmente. “Vem uma recuperação muito forte por aí.”

RETOMADA DA ECONOMIA

O processo de recuperação econômica e do nível de renda no País deve crescer neste mês de maio e se intensificar no segundo semestre, apontou o economista. Ele explica que um dos fatores para isso é a volta do auxílio emergencial.

“Com a volta do auxílio, a renda dos salários, a massa salarial real está subindo. Se quando estava caindo a gente ainda estava conseguindo sustentar expansão de consumo, agora que vai entrar renda nova, provavelmente, vai acelerar esse processo de crescimento. Ou seja, a curva de crescimento ao longo deste ano deve ser muito parecida com a do ano passado”, disse.

Amorim destacou que a economia brasileira teve a expansão mais forte da história entre maio de 2020 e fevereiro deste ano, apesar da pandemia. “O crescimento no terceiro trimestre do ano passado foi o maior crescimento trimestral da história. E o crescimento do 4º trimestre foi o terceiro maior da história”, frisou.

No Ceará, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 16,7% no terceiro trimestre de 2020, ficando acima da média nacional, que apresentou alta de 7,7% na mesma base de comparação, segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

No início de 2021, antes da segunda onda de Covid-19, a trajetória econômica do País ainda apontava para recuperação, segundo o economista. “Não fosse a piora da pandemia, o Brasil teria continuado a crescer de forma muito forte.”

CRESCIMENTO NA INDÚSTRIA 

O setor com maior lentidão e fragilidade no processo de recuperação foi o de serviços, apontou Amorim. “Só em fevereiro o setor de serviços passou dos níveis anteriores ao da pandemia de fevereiro do ano passado. Isso porque no mês de fevereiro houve um crescimento muito forte nesse setor.”

A indústria, ao contrário, já vinha em processo mais consistente de recuperação em todo o País desde o fim do ano passado. “No final do ano passado, a indústria já tinha superado os níveis pré-pandemia”, destacou.

Já o comércio foi o mais beneficiado entre os setores, ressaltou o economista, uma vez que o segmento levou vantagem com o e-commerce, tendo a recuperação mais forte até agora no País.

“Quando acontece uma paralisação, para o comércio, acontece uma migração de canal. Só nos primeiros oito meses de pandemia, o e-commerce brasileiro cresceu o equivalente aos 12 anos anteriores”.

AUXÍLIO EMERGENCIAL

Ele também explicou que os setores que mais cresceram no Brasil no ano passado são, em geral, aqueles mais dependentes do consumidor de renda mais baixa. Com o auxílio emergencial, essa fatia da população passou a ter melhores condições e consumir artigos que antes não podia.

A população de maior renda, no geral, ao ter um ganho extra, direciona para poupança ou investimentos, interpretou Amorim.

“A renda e a capacidade de consumo no Brasil despencariam não fosse o auxílio emergencial. Ele fez com que a renda total disponível, renda real ampliada, tenha sido no ano passado maior do que ela seria se a gente não tivesse o auxílio, principalmente no segundo e terceiro trimestre. Isso foi o que fez com que aquela recuperação forte da economia acontecesse”, ponderou.

“Não só as pessoas tiveram mais renda, mas quem mais teve crescimento de renda foi o consumidor de renda mais baixa, que é quem tem propensão maior a gastar o que recebe”, analisa.

Entre outros pontos, Amorim também afirmou que a inflação deve ser mais alta do que o projetado, e acredita na queda do dólar ao longo do segundo semestre.

Fonte: Diário do Nordeste