A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) projeta quadro negativo para a construção civil. Segundo o último relatório da entidade representativa, após 10 trimestres seguidos de um cenário otimista, a projeção de crescimento da construção civil foi revisada para baixo, reduzindo a estimativa de alta de 2,5% em 2023 para uma projeção de expansão de 2%.

“Se estamos revisando para baixo é sinal de que o que a gente previa não está acontecendo, e o pior, a causa não está sendo devidamente enfrentada, e nós deveremos ter mais problemas do que já estamos tendo”, disse o presidente da Cbic, José Carlos Martins.

Mesmo com o retorno do programa Minha Casa, Minha Vida e mudanças anunciadas, como o aumento do teto de R$ 254 mil para R$ 350 mil, que trazem perspectivas mais animadoras, o setor ainda projeta crescimento abaixo da expectativa.

Ao mesmo tempo que há a tendência de um segundo semestre com maior procura em relação ao primeiro, há a precificação de aumento dos custos dos insumos e a consequente elevação dos custos da construção.

“Hoje, no mercado imobiliário, está acontecendo um limbo. Tendo em vista a conjunção da taxa alta de juros com o aumento nos custos da construção, nós tivemos um aumento no preço dos imóveis”, detalha Martins.

O presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), Diego Canzi Dalastra, reitera a perspectiva do representante nacional. “O nosso cenário nesse primeiro semestre é bem preocupante, a gente teve um primeiro trimestre muito ruim, de baixa, tanto nas vendas de imóveis quanto na venda do material de construção. A expectativa para o segundo trimestre também é de fechamento negativo”, completa.

Ainda de acordo com Dalastra, os juros altos são um agravante para a situação desfavorável, uma vez que os financiamentos acabam inviabilizados, o que interfere diretamente na aquisição de negócios imobiliários.

“Hoje, temos um estoque de imóveis para serem vendidos que não estão sendo comercializados, então isso vai freando a cadeia como um todo”.

O presidente da Cbic ainda destacou, durante evento da construção civil realizado no mês passado, que, no ritmo atual, “só em 2032 a construção vai conseguir retomar o pico de suas atividades, registrado em 2014”.

ALTA DE CUSTOS

Segundo dados do Custo Unitário Básico da Construção Civil (CUB), do Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção do Estado de Mato Grosso do Sul (SindusCon-MS), o preço médio do metro quadrado tem subido mensalmente desde 2020.

Em março de 2020, início da pandemia da Covid-19, o custo por metro quadrado de construção de imóveis residenciais de padrão médio, em MS, custava R$ 1.170,31. Já em maio de 2023, o custo foi a
R$ 1.614,79, elevação de 37,97%.

O CUB, calculado com base em dados fornecidos por empresas do setor, é o principal indicador de custo do setor de construção civil em Mato Grosso do Sul e representa o valor gasto para construir o equivalente a um metro quadrado de um imóvel.

Durante o auge da pandemia, a indústria nacional parou de produzir insumos, o que elevou os preços dos materiais para construção. Mesmo considerando tais condicionantes, atualmente o custo por metro quadrado está bem acima do praticado em 2020 e em 2021.

O proprietário da Barney Construções e Empreendimentos, localizada em Campo Grande, Fernando Padoin, explana que a situação não é das melhores na Capital, citando a pandemia como um dos motivos da desaceleração da área, além da elevação da Selic e dos tributos altos.

“Com o poder aquisitivo menor e a taxa de juros lá em cima, isso faz com que a prestação fique mais cara, afugentando possíveis compradores. Os investidores da construção civil estão retraídos com esse novo governo, muito tensos com a perspectiva dos próximos meses”.

O empresário ainda ressalta que, além da construção em si ter ficado mais cara, os terrenos e os insumos também seguem subindo. “A esperança é que uma reforma tributária, assim como a mudança do Minha Casa, Minha Vida, possa melhorar o andamento da situação”, conclui.

RETRAÇÃO

A economista da Cbic, Ieda Vasconcelos, disse durante evento on-line que a construção registra queda pelo segundo trimestre consecutivo, cenário que não se repetia desde o fim de 2019 e o início de 2020.

Na situação atual, a retração segue a sequência já constatada no 4º trimestre de 2022, quando registrou queda de 0,6%. Já nos primeiros três meses deste ano, acumula recuo ainda maior, somando 0,8%.
“Esse resultado deve levar a uma nova revisão da expectativa de desempenho do setor para 2023”, alertou a economista.

Outro indicador que aponta elevação é o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que tem como base os dados e os cálculos divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicador registrou aumento de 0,59% no mês de maio, sendo esse o maior aumento identificado desde julho do ano passado.
Para a economista responsável pela análise, um dos aspectos que justificam o crescimento são as altas registradas no custo da mão de obra, que teve elevação de 1,22% no período.

“O custo com material registrou queda de 0,13% em maio. Com isso, acumula elevação de 0,90% nos últimos 12 meses, enquanto de janeiro a maio não registrou elevação”, complementou Ieda, ao detalhar o cenário nacional da construção.

Fonte: Correio do Estado