A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 15% desconsidera sinais claros de desaceleração econômica que permitiriam uma redução imediata dos juros, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para o presidente da entidade, Ricardo Alban, a combinação de inflação em queda, atividade enfraquecida e perda de fôlego no mercado de trabalho já justificava o início do ciclo de cortes na reunião desta quarta-feira (10).
Segundo ele, manter a taxa em um nível tão elevado aprofunda a perda de ritmo da economia, encarece o crédito, desestimula investimentos e compromete a competitividade industrial. Alban destaca ainda que o próprio Copom admite que os efeitos da política monetária ainda não se materializaram totalmente, o que, na visão da CNI, abriria margem para um ajuste gradual sem comprometer a convergência da inflação.
A entidade chama atenção também para o patamar dos juros reais brasileiros, que devem encerrar 2025 próximos de 10,5% ao ano — cerca de 5,5 pontos percentuais acima da taxa neutra estimada pelo Banco Central. Com isso, o Brasil permanece entre os países com juros reais mais altos do mundo, atrás apenas da Turquia. Estudos da CNI indicam que a taxa básica de equilíbrio deveria ficar ao redor de 10,5% ao ano, o que significa que a Selic atual está cerca de 4,5 pontos percentuais acima do necessário, reforçando o caráter conservador da política monetária. Paralelamente, a inflação já voltou ao intervalo de tolerância.
O IPCA de novembro avançou 0,18%, acumulando 4,46% em 12 meses, influenciado pela forte desaceleração dos alimentos, que passaram de alta de 8,2% em 2024 para 2,5% até novembro de 2025. Além disso, as expectativas também seguem em queda, com projeções do Boletim Focus apontando IPCA de 4,4% em 2025 e recuos para os anos seguintes.
Os impactos do juro elevado são visíveis no enfraquecimento da atividade. No terceiro trimestre, o PIB cresceu apenas 0,1%, após avanços de 0,3% no segundo trimestre e de 1,5% no primeiro. A indústria também sente intensamente os efeitos: entre janeiro e outubro, a produção industrial subiu somente 0,8% frente ao mesmo período de 2024, segundo o IBGE.
O mercado de trabalho também perde força — a ocupação avançou apenas 0,1% no trimestre encerrado em outubro — enquanto as concessões de crédito, afetadas pelas taxas mais altas e pela inadimplência crescente, desaceleraram de 10,7% em 12 meses até dezembro de 2024 para 4,5% até outubro de 2025. O quadro também pressiona as contas públicas: segundo o Banco Central, cada aumento de um ponto percentual na Selic eleva a dívida bruta em R$ 55,6 bilhões em 12 meses.
Diante desse cenário, a CNI defende que o Banco Central inicie na próxima reunião o ciclo de cortes da Selic. A entidade também sugere que a autoridade monetária adote outros instrumentos, como o ajuste dos depósitos compulsórios, que têm menor impacto fiscal e ajudam a controlar a liquidez, permitindo acelerar a redução dos juros sem comprometer o combate à inflação.