A potencialização do uso do Modelagem da Informação da Construção (BIM), por meio do Virtual Design and Construction (VDC) e de um conceito mais amplo do Integrated Project Delivery (IPD), aqui mais conhecido como Contrato de Aliança, foi destaque do 9º Seminário Internacional BIM, realizado no dia 25 de outubro pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP).

Para o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, o BIM e o VDC serão importantes para incrementar a produtividade, fator indispensável no próximo ano, quando se espera um aumento da demanda por obras.

Romeu Ferraz observou que o governo sinaliza a obrigatoriedade futura da adoção do BIM nos contratos de execução de obras, ao ter instituído em maio Estratégia Nacional de Disseminação do BIM e criado em junho o Comitê Estratégico de Implementação do BIM.

Ele ainda elogiou o trabalho dos membros do Grupo de Trabalho BIM do CTQ – Alexandre Glogowsky, Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, Fernando Fernandes e Paulo Sanchez. E congratulou-se com o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP e líder do projeto BIM da CBIC, Paulo Sanchez, pela disseminação da ferramenta entre o governo e as construtoras de todos o país.

Há dois anos, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), por meio do Projeto de Tecnologia e Inovação na Indústria da Construção, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional), iniciou o trabalho de disseminação dessa nova tecnologia no Brasil inteiro.

Sanchez, por sua vez, relatou ter constatado, em recente missão ao Reino Unido, que o governo brasileiro está empenhado na implementação gradual da obrigatoriedade da adoção do BIM e que o nível de utilização desse processo por empresas nacionais já se iguala ao das inglesas. Ele também se referiu ao elemento que a seu ver impulsiona a adoção do BIM: a paixão pela engenharia e pela melhoria contínua das empresas e dos processos de gestão e produtivos.

Processos colaborativos

Ao apresentar o sistema VDC, o analista de Negócios da DPR Construction (EUA), Leonardo Rischmoller, mostrou como ele potencializa o BIM, aliado ao Lean Construction (Construção Enxuta) e ao Project Production Management (Gerenciamento de Produção de Projetos).

O sistema baseia-se em uma colaboração estreita (Integrated Concurrent Engineering – ICE), reunindo em um mesmo espaço (Big Room) o dono da obra, projetistas, calculistas, construtores e instaladores. Agiliza-se a elaboração do projeto e se evitam colisões e outras imperfeições.

Problemas específicos, à medida que surgem, são resolvidos em reuniões já com a visualização do projeto em BIM (Small Room, um conceito criado na Nasa). Essas reuniões podem ser realizadas tanto na fase de elaboração como na de execução, diminuindo consideravelmente o tempo (latência) entre a detecção dos problemas e a descoberta de suas soluções. Nelas, também se discutem alternativas (pensar fora da caixa) não imaginadas anteriormente.

O sistema também inclui métricas que permitam ao dono da obra e demais envolvidos aferir continuamente o desempenho do projeto, sob a ótica de custo, prazo e qualidade, e ir além, verificando se o mesmo é utilizável, construtível, operável em uso e sustentável. É aí que entra um conceito mais amplo de IPD, com a integração do BIM e esses processos e sistemas colaborativos, chegando-se a um contrato de aliança, que pode até ser dispensado, mediante um elevado nível colaborativo dos agentes envolvidos.

Todos esses elementos, concluiu Rischmoller, permitem inovações, tais como a pré-fabricação de perfis metálicos por robôs, agilizando a execução da obra. Algumas das condições para o sucesso do VDC e do IPD são um “mindset” colaborativo, foco nos sistemas e a consciência de que os concorrentes já estão partindo para esse nível avançado da modelagem.

Case de sucesso

Quando dono da obra, projetista em BIM, gerenciador do projeto e construtora encontram-se em cidades ou até países diferentes, pode-se operar o VDC e o IPD em nuvem. Foi o que mostrou o coordenador BIM-VDC da Cosapi, a segunda maior construtora do Peru, Leandro Fernández, ao apresentar o case de projeto e execução do shopping center horizontal de Arica, no Chile.

Fernández deu exemplos práticos de redução da latência, detecção prévia de colisões, resolução de problemas em reuniões ICE com redução de custos, e um retrabalho zero, no projeto e na execução da obra. Mostrou ainda novos recursos, como a utilização de realidade aumentada para análise permanente e melhorias do projeto em execução.

O gerente BIM mostrou também como a modelagem permite visualizar o realizado e projetar diariamente os avanços da obra, com o compartilhamento descentralizado da informação. Neste processo, as resistências dos encarregados à modelagem vão sendo gradualmente vencidas, até que eles próprios mudam o “mindset” e adquiram tablets para si.

Nos debates que se seguiram, o vice-presidente Francisco Antunes de Vasconcellos Neto chamou a atenção para dinâmicas diferentes existentes entre a construção brasileira e a norte-americana. “Não há um só caminho, o importante é a colaboração por meio do BIM e do VDC, que possibilite uma interação entre clientes, projetistas e construtoras, de forma a chegar a projetos viáveis e econômicos”. Ele ainda destacou a importância da assertividade, facilitando o trabalho até dos fornecedores de materiais e sistemas de construção, que já não mais perdem dias de trabalho à espera de soluções improvisadas nos canteiros, decorrentes de falhas de projeto.

Já o professor Eduardo Toledo, da USP, que colaborou na coordenação técnica do evento, destacou a importância de as empresas atentarem para as inovações apresentadas.

Novos softwares

Antes destas apresentações, Alexandre Miranda, responsável pelas operações da ACCA Software no Brasil e Portugal, apresentou as soluções desenvolvidas para a adoção e operação do BIM por sua empresa. As aplicações vão desde cálculo e modelagem estrutural de edifícios, instalações e orçamentação, e ingressam em áreas como energia fotovoltaica, segurança no canteiro de obra e plano de manutenção. Possibilitam também trabalhar com softwares já adotados pelas empresas.

Fonte: Revista Construa